De um lado, a falta de profissionais qualificados para trabalhar na área de tecnologia da informação (TI) em contraposição a uma demanda gigante por parte das empresas.

Do outro, uma série de profissionais com bastante maturidade e experiência – na área de tecnologia ou não – à procura de oportunidades em um tempo em que as carreiras estão cada vez mais longas, com o envelhecimento da população.

Ambos os lados parecem poder se ajudar, mas há espaço para profissionais acima dos 50 anos no mercado de TI?

Vaga tem: de acordo com a Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom), em um estudo publicado em dezembro, apenas 53 mil pessoas se formam por ano em cursos de perfil tecnológico no País, enquanto a demanda média anual é de 159 mil profissionais. Ou seja, um déficit de 106 mil talentos.

Já segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em pesquisa de 2019, 27,3% dos profissionais sem ocupação com mais de 40 anos procuram um trabalho, sem sucesso, há pelo menos dois anos. Dados do InfoJobs, de 2021, confirmam os obstáculos: entre 4.588 entrevistados, 70,4% já sofreram preconceito no mercado de trabalho em relação à idade. Apenas 12% das empresas têm mais da metade de seus profissionais com mais de 50 anos.

“Nos últimos anos, o mercado sofreu um excesso de juniorização. Começou uma demanda por profissionais de tecnologia e, de uma hora para outra, as empresas passaram a ter que formar profissionais, enquanto enfrentam uma guerra por preço. Houve a necessidade de contratar pessoas mais jovens, que têm salários mais baixos”, conta Edenize Maron, gerente geral para a América Latina da Rimini Street, empresa global de produtos e serviços de software empresarial.

A empresa foge à regra do mercado quando o assunto é idade, com 40% dos 120 funcionários – todos contratados em regime CLT – acima de 45 anos de idade.

Outros 40% têm entre 35 e 45 anos. Esses profissionais estão espalhados por diversas áreas, como alta gestão, recursos humanos, marketing e, principalmente, tecnologia da informação.

“O nosso objetivo não é contratar gente que já se aposentou ou está na iminência de se aposentar para pagar menos. Nosso modelo de negócios é em cima da eficiência dessas pessoas.

A experiência evita muitos erros e acelera a aprendizagem. Toda a bagagem acumulada se passa para quem está chegando e se aprende ainda mais”, explica Edenize.

 

Trabalho remoto como atrativo

Na Rimini Street, não há um processo seletivo específico para esse público, mas, segundo a gerente, a valorização de talentos mais experientes é uma visão global da empresa, que nasceu nos Estados Unidos.

Desde que chegou ao Brasil, há seis anos, o modelo de trabalho é híbrido, em que os funcionários escolhem entre trabalhar em casa ou no escritório, em São Paulo.

A modalidade é vista como uma forma de retenção de talentos, principalmente entre os 50+.

“A gente tem que ser mais flexível. São profissionais que viajaram décadas, passaram por muito estresse em projetos. Então damos a infraestrutura para que eles estejam na cidade que querem estar. Com isso, atraímos profissionais bons que estão cansados dos grandes centros, mas não de trabalhar”, conta.

Poder trabalhar de casa foi um fator decisivo para Marcelo Rocha, de 56 anos, trabalhar na empresa, há seis anos. Com mais de 30 anos de experiência em TI, hoje ele ocupa o cargo de gerente de suporte para a América Latina na empresa e coordena um time de 11 pessoas, todas acima de 40 anos, sendo a maioria acima de 50.

 

“Eu adoro o home office, porque a minha vida, na minha idade, é estável. Eu posso cozinhar em casa, já não tenho aquela necessidade de fazer happy hour. A minha estabilidade me deixa feliz em estar em casa e poder fazer isso afeta não só a minha retenção, como a da equipe também. Faz com que eu não tenha rotatividade de profissionais”, conta Marcelo, que mora em Curitiba.

“Os profissionais com mais de 50 anos são essenciais na tecnologia, porque a juventude traz a inovação, o conhecimento acadêmico, já que geralmente acabou de sair da faculdade, soluções fantásticas. Já o profissional maduro vai se valer desse conhecimento e dessa empolgação para trabalhar na estratégia, na aplicabilidade da tecnologia no negócio.”

Fonte: Money Times