Cursos terão foco em desafios reais e empregabilidade, a partir de parcerias com empresas de tecnologia

Uma escola voltada para o futuro do trabalho, com aulas dadas por executivos de unicórnios e foco em desafios reais que gerem empregabilidade. Essa é a proposta da Sirius, startup idealizada por Felipe Matos, um dos nomes mais notáveis do ecossistema de inovação do país – ele já esteve à frente de iniciativas como a Startup Farm e o Start-Up Brasil. Atualmente é presidente da Associação Brasileira de Startups.

“Estava sentindo falta de empreender”, disse Matos em conversa exclusiva com PEGN. “Por isso resolvi realizar um sonho antigo, que é começar a criar a universidade do futuro, com cursos práticos capazes de formar os talentos de que o ecossistema precisa. Acredito que nossos modelos estão totalmente ultrapassados. A educação do futuro precisa ter mais tecnologia, empreendedorismo e ainda um olhar mais humano.”

Para colocar o negócio em pé, Matos e seus sócios – Rafaela Herrera Silva, Fernando Americano e Arnobio Morelix – captaram R$ 5 milhões com o fundo Garan Ventures e com investidores-anjo como Camila Farani e Rodrigo Cartacho, da Sympla. O primeiro curso, com duração de seis meses, será sobre Ciência de Dados e começará no final de setembro, em formato virtual. As inscrições já estão abertas. O preço total é de R$ 17.500. Para cada aluno pagante, a escola oferecerá duas bolsas de estudo.

Segundo o empreendedor, a previsão é chegar até 2022 com um portfólio de 8 a 10 cursos, reunindo turmas de 50 a 100 alunos. A proposta é que sejam híbridos: 80% de aulas remotas e 20% de aulas presenciais. Para isso, serão abertas, a princípio, unidades em São Paulo, Belo Horizonte e Florianópolis. Em até cinco anos, os sócios querem chegar a todas as regiões do Brasil. Confira abaixo os principais trechos da entrevista com Felipe Matos.

Como surgiu a ideia de criar uma escola de tecnologia?

A minha história no ecossistema sempre foi pautada por buscar resolver os gaps que eu observo ao longo do caminho. Hoje, eu acho que o maior desafio do ecossistema de tecnologia brasileiro é o gap de talentos. O cenário de startups tem crescido muito e de uma maneira cada vez mais acelerada, com recordes de investimentos em 2020 e 2021. Com isso, contratar talentos qualificados ficou mais difícil ainda. Além disso, tivemos a pandemia, que acelerou a transformação digital em todas as empresas e derrubou barreiras geográficas. Então, hoje, se você tem uma startup e precisa contratar, terá que competir com outras startups, com unicórnios, bancos, consultorias, médias e grandes empresas que estão se transformando – e ainda com empresas estrangeiras que vêm buscar talentos aqui. Está muito difícil.

O que a Sirius oferece de diferente em relação ao que já existe no mercado?
Hoje a formação desses talentos se divide em dois mundos. O primeiro é o das universidades, mais tradicional, com um ensino mais profundo na teoria, mas currículos desatualizados. Do outro lado, temos cursos livres e bootcamps, com olhar mais rápido e voltado para empregabilidade, mas não tão profundos. Queremos juntar o melhor de dois mundos. Oferecer um ensino um pouco mais aprofundado, mas muito mais próximo das empresas, mais rápido e centrado nos alunos. Dados de pesquisas da McKinsey apontam que a qualidade de formação de tecnologia hoje no país está aquém do que é demandado pelas empresas. E o mais alarmante: 50% dos estudantes que se formam não se sentem preparados para atuar no mercado. Queremos preencher esse gap.

Quais serão os cursos e como será o formato das aulas?
No final de setembro, começa o primeiro curso, um fellowship de Ciência de Dados 100% online, com duração de 6 meses. Não será exigido nenhum pré-requisito para entrar, mas os candidatos passarão por um processo de seleção: queremos alunos com afinidade com tecnologia, que tenham capacidade analítica e disposição para o aprendizado contínuo. Até 2022, queremos ter entre 8 e 10 cursos, dentro de três trilhas: ciência de dados, desenvolvimento de aplicações para a internet e gestão de produtos digitais. As aulas serão voltadas para a prática, sempre com desafios reais e professores com experiência em startups e grandes empresas de tecnologia. E vamos encaminhar nossos estudantes para um trabalho remunerado já no começo do curso.

Vocês já estabeleceram parcerias com empresas?
Estamos conversando com várias nesse momento, mas ainda não posso citar nomes. Mas posso dizer que já nesse primeiro curso teremos empresas parceiras, que poderão contratar os alunos. Além disso, vamos criar um banco de talentos, que poderá ser acessado por qualquer companhia. Como há muita demanda, a nossa expectativa é que a procura seja intensa.

Quais são os planos para o futuro?
Temos um planejamento para novas captações, uma rodada série A que deve ajudar a financiar a nossa expansão. Mas não posso falar sobre datas ainda. Nos próximos cinco anos, queremos ter unidades em todas as grandes cidades brasileiras e chegar a dezenas de milhares de alunos.

Fonte: Globo.com