Internet gratuita muda vida dos moradores da Vila do Índio, em BH
A Prodabel instalou internet gratuita em outros espaços públicos da capital. “Temos pontos do Wi-fi BH, mas agora o foco é levar para as favelas de Belo Horizonte”.
Ao todo são 218 vilas e favelas na capital. A Vila do Índio foi escolhida para o piloto do projeto pelo tamanho – conta com 617 domicílios e 1882 pessoas.
O acesso à internet melhora a vida das pessoas em todas as áreas. “Na saúde, pode ter acesso ao Conecte SUS; na educação, alunos que precisam da internet para estudar. Na área de emprego, temos os cursos gratuitos da Prodabel”.
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O piloto do projeto ‘Wi-fi na favela’ foi implementado na Vila do Índio, na Região de Venda Nova, conectando gratuitamente 2 mil pessoas
As caixas cinzas nas paredes das casas na Vila do Índio, na Região de Venda Nova na capital, podem passar despercebidas a olhares pouco atentos de quem chega de fora. No entanto, os moradores sabem bem onde elas estão e, mais do que isso, sabem o quanto elas melhoram a vida da comunidade. A vila foi escolhida para implantar o piloto do projeto “Wi-Fi nas favelas”, que fornece internet gratuita em Belo Horizonte.
As caixas são roteadores de internet que chega ao local por fibra ótica. Uma dessas caixas fica ao lado da janela de Beatriz Andrade Balduino, de 17 anos, de onde ela observa o movimento da via estreita onde mora.
Mas é o que não se pode ver que melhorou a vida da jovem, o wi-fi gratuito, que permite a ela acessar a internet sem custos. Além da conexão com a rede mundial de computadores, o que é fundamental na era da informação, esse acesso também é fundamental para outro direito: a educação.
Ela cursa, de maneira remota, o programa Educação de jovens e adultos (EJA), opção que teve para se manter matriculada, depois que se mudou da Serra, na Região Centro-Sul, para a Vila do Índio, para onde ela não conseguiu fazer a transferência escolar.
A jovem está desempregada, portanto com renda limitada, o que dificulta a conexão com a web. Em casa ela não dispõe de computador nem tem como pagar para ter um pacote de dados.
O acesso à rede mundial de computadores é realizado pelo celular, mas isso apenas quando ela conseguia comprar um pacote de dados, o quê, nos últimos tempos, estava fora de cogitação, tendo em vista que precisava arcar com outras despesas da casa, que ela divide com o namorado.
“Nem sempre tenho dinheiro para colocar crédito no celular.” Ela confessa que quando não tinha dinheiro para recarregar, lançava mão do sinal do vizinho. “Sentava aqui na porta para pegar o wi-fi”, conta.
A internet gratuita é fundamental para Beatriz, que está no oitavo ano, manter o sonho de cursar engenharia civil.
“Estudar pelo telefone é um pouco complicado. Não sou muito tecnológica. Copio tudo no caderno, tiro a foto e mando para os professores”. O ensino remoto, que é difícil para ela, poderia ser inviável se não tivesse o sinal de wi-fi na comunidade. A internet também é importante para o lazer dela, assim como para outras pessoas da Vila.
“Ter o wi-fi é bom para estudar, mas para passar o tempo, ouvir uma musiquinha, Youtube. Gosto muito de ver documentários.”
E não é só isso: “Quem não está conectado fica meio para trás. Hoje em dia tudo tem tecnologia, até mesmo pagamento. Ninguém mais anda com dinheiro na mão, agora é PIX.”
A aposentada Maria Lúcia de Souza, de 63, comemorou a internet gratuita. “A melhor coisa que colocaram na comunidade foi a internet. Às vezes, a gente não tem dinheiro para colocar bônus, crédito no celular. A internet gratuita ajuda muito a gente”.
Ela usa a internet no celular e na televisão. “Para ouvir o louvor da igreja”, diz.
Importância em vários sentidos
A internet foi fundamental para que Hellen Cristina da Silva, de 25, conseguisse um trabalho. Ela fez o curso de cuidadora de idosos no formato híbrido, com aulas remotas e presenciais.
No entanto, antes da internet gratuita, ela tinha que pagar um pacote de dados no valor de R$ 60 por mês. “Um dinheiro economizado”. Ela considera que chega a ficar 14 horas por dia conectada.
“Somos dependentes da internet para tudo, até dinheiro. Não anda mais com dinheiro, tudo é no telefone. Sem internet, a gente fica fora do mundo.”
Depois de fazer o curso ofertado pela organização não-governamental Nova Esperança, foi indicada para fazer estágio.
Ela já está no segundo curso com duração de quatro meses. Ou seja, caso não tivesse a internet gratuita, teria que pagar R$ 240 para se capacitar, um valor que para ela e o marido faz falta.
“Esse valor pesa, porque tenho também a passagem para ir para o estágio todos os dias.”
O acesso gratuito à web permitirá a Alice Rodrigues Martins ampliar o próprio negócio, um salão de beleza. Ela faz o contato com as clientes pelas redes sociais.
Antes, a mãe Ione Felipe Rodrigues Martins pagava R$ 180 por mês para acessar ficar conectada. “Depois dessa internet, minha mãe tirou o pacote.”
Na casa, são três pessoas em idade escolar, ela e duas irmãs. Ela cursa o primeiro ano do ensino médio na Escola Estadual Afrânio de Melo Franco e, devido à pandemia da COVID-19, acompanhava as aulas on-line. “Foi um pouco difícil, porque não tinha essa internet ainda, mas agora ficou mais fácil.”
A Prodabel, empresa de informática e informação de Belo Horizonte, oferecia cursos de inclusão digital. No entanto, de acordo com o gerente pedagógico de inclusão, Thiago Ferreira da Silva, muitas pessoas não acessam os cursos por não terem internet. “Percebemos que muita gente queria fazer os cursos de inclusão digital, se qualificar na informática, porém não tinha acesso. Crianças que precisavam estudar e não tinham acesso. A maioria dessas pessoas estão nas vilas e favelas.” A L8 é a empresa responsável pelos roteadores da internet.
Vila do Índio
Quem chega à Vila do Índio, na Região de Venda Nova, entra por um via margeada pelo Córrego Várzea da Palma. O afluente não é o melhor cartão de visita da comunidade, por estar tomado por esgoto e lixo.
No entanto, se não foi realizado por parte do poder público o saneamento do córrego, o que interfere na qualidade de vida de quem mora ali, a própria comunidade se mobiliza para trazer beleza ao local, como se pode ver no painel na parede de um estabelecimento, que fica também na entrada da vila. A imagem é de um indígena comanche.
Fonte: Estado de Minas
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